sábado, novembro 01, 2003

Não tem jeito...

...é mesmo Halloween nesta cidade tropical e tupiniquim. Até dá para entender, mas não para aceitar tal coisa. E pensar que ontem mesmo, enquanto travava uma conversa interessantíssima sobre festas e folguedos populares do nordeste brasileiro, coisas genuinamente nacionais e pertinentes, minha rua era invadida por pequeninas bruxas, carrascos e vampiros. E, bem mais tarde, estes personagens já não eram tão pequeninos, as bruxas, carrascos e vampiros já tinham tamanho suficiente para entender que aquilo não faz parte da nossa paisagem.

Uma noite quente de primavera, do jeito que só um país tropical produz, sendo povoada por marmanjos fantasiados de monstrinhos que em nada lembram as histórias contadas por seus pais. E eu, mais uma vez saindo de uma demonstração genuína de nossas raízes (era o lançamento do DVD Lunário Perpétuo do Antônio Nóbrega), não consegui compreender que graça poderia ter absorver uma manifestação que em nada se assemelha as minhas raízes.

Será que ninguém percebe que nossos monstros são diferentes? Alguém consegue imaginar aquele personagem do filme pânico, por exemplo, sobreviver ao nosso calor debaixo daquele roupão preto e aquela máscara de látex? E a vampirada então? Como seria a vida de Conde Drácula da vida se ele morasse no sertão, lá em Arco Verde, por exemplo?

Por aqui saldamos nossos mortos com missas, orações e flores nos túmulos. Dar doces para as crianças é em outra data, dia 27 do mês passado para ser precisa. Se fantasiar, mesmo que seja de monstrinho, tb é em outra data, outra festa, no Carnaval para ser precisa.

Continuo sonhando com uma festa do folclore, quando crianças se fantasiarão de Curupira, Saci, Mãe d'agua, e os adultos dançarão uma enorme ciranda, escutarão com atenção a poesia dos cantadores e serão todos brincantes ao menos por um dia.