Ela não era do tipo que se sentia atraida
pelo perigo ou coisas proibidas. Ética, convenções sociais, regras. Tudo isso
estava sempre voando dentro de sua cabeça o tempo todo. Mesmo quando a vontade
parecia ganhar espaço, o peso dos ditos princípios esmagava tudo. E a batalha
interna era travada.
E foi assim quando ele chegou munido de um
charme quase irresitível. A medida em que as horas passavam aumentava a
vontade, que de tão proibida começava a incomodar.
Ninguém mais parecia se importar e seguiam
seus planos. O que para ela eram obstáculos quase intransponíveis, aos olhos
dos outros não passavam de meros detalhes a serem ignorados. Ao perceber que seria
atropelada enloqueceu em silencio. Se refugiou em desculpas e se fez de surda e
muda. Chorou em segredo ao vê-lo seguir um caminho oposto ao seu e desejou,
mais secretamente ainda, ser como as outras pessoas que viam apenas o lado
prático da vida. Mas a coragem não lhe foi companheira e o jeito foi aceitar a
derrota.
Mais difícil que lutar contra um desejo é
ir de encontro aos seus prórpios princípios. E ele continuava lá se fazendo
notar com singelos sinais de reciprocidade. Por um momento deixou escapar que
para ele também era presente o tal desejo. Ela o fazia sim ser tomado por
pensamentos impuros.
Perto do fim os dois ficaram de pé na
fronteira. Ela se entregou suplicando pela conduta que julgava correta. Ele
respondeu a contento mantendo a postura ética compartilhada por ela. Tudo
acabou com um forte abraço que deixou uma deliciosa sensação de cumplicidade.
Vaidosa, ela celebrou o divino encontro de
iguais.