terça-feira, março 07, 2006

Lembranças sem sentido

Sempre que jogo Paciência lembro da sua mãe. Acho que nunca te contei, mas foi ela que me ensinou. Era fim de tarde, estávamos mexendo naquele computador velho no primeiro quarto. Ele ficava ali, perto da janela. Nessa época ela ainda economizava palavras para falar comigo, bem daquele jeito pouco simpático. Mesmo assim, me ensinou a jogar Paciência.

Outra noite sonhei com seu pai. Eu nem lembrava do rosto dele, faz tanto tempo... Ainda assim, sabia que era ele. Me olhava com ternura e parecia não aprovar as coisas que você fazia. Sua sala estava desarrumada, cheia de móveis velhos, aqueles de madeira escura. O sofá estava rasgado. Tinha uma manta para cobrir o tecido puído, mas estava meio suja. E ele lá, de pé, bem no meio da bagunça. Não gostava do que via, mas me olhava com ternura. Entendi que eu não tinha culpa. Seu pai me absolveu e eu acordei mais leve.