domingo, julho 27, 2003

Explicando, comentando...

Prometi para mim mesma não fazer deste blog um diário. Posts do tipo hj fui em tal lugar, encontrei tal pessoa, vi tal coisa, ouvi isso, comi aquilo, escritas com a urgência de um tempo real estão absolutamente fora de cogitação. Mas existem coisas que realmente fogem ao nosso controle e precisam ser comentadas no dia em que acontecem.

Só para disfarçar vou começar a falar do meio da semana. O dia era de premiação, o hall de entrada do Teatro Municipal do Rio fervia de gente em trajes de gala se acotovelando entre câmeras e fotógrafos. Famosos e anônimos (onde eu ainda me incluo) eram perseguidos por câmeras e microfones ávidos por uma pose, declaração, aceno ou sorriso. Parece mesmo um mundo à parte, um mundo onde as aparências falam por si. Fiquei estrategicamente ao lado de umas das belas pilastras do hall do teatro, meio me escondendo para acompanhar o burburinho sem fazer parte dele. Ali percebi como seria difícil para mim pleitear uma vaga de repórter em uma dessas revistas de famosos. "Coitada de mim, só conheço os músicos", pensava enquanto admirava a briga dos fotógrafos por closes nas pessoas mais estranhas do mundo. Ficava aliviada quando via entrar caras familiares como a de Paulo Moura, Hermeto Pacoal, César Camargo Mariano, Wagner Tiso, Lirinha, Big Joe Manfra e mais uma penca de músicos, mas ao mesmo tempo revoltada por vê-las passar sem serem notadas pelos flashs. Afinal era um prêmio de música e não uma festinha das novelas globais.

Deixemos as revoltas de lado e nos concentremos nos prêmios. Para mim o ápice absoluto foi o prêmio de Melhor Grupo Regional. O Cordel do Fogo Encantado arrancou aplausos e gritinhos da platéia na hora de buscar seu prêmio no palco. Para mim uma emoção à parte, admiradora confessa do belo trabalho do grupo, foi lindo ver que os meninos conseguiram ser reconhecidos mesmo com um CD independente. São os bons ventos da mudança invadindo a nossa música. Os dois prêmios dados a Hermeto Pascoal e os três de Zeca Pagodinho me deixaram uma sensação de seriedade por trás da festa.

Mas todo este papo foi mesmo para introduzir a pérola do dia. Os grupos LS Jack e Art Popular se enfrentaram hj à tarde no aeroporto Santos Dumont. A notícia foi parar no Globo News sob o título "Baixaria no Santos Dumont - Grupo de pagode e banda de rock brigam no aeroporto". Segundo a nota, um dos pagodeiros teria feito piadinhas para os pops, que não gostaram e partiram para a briga. O resultado foi um pagodeiro com luxação no ombro, um pop com fratura no punho esquerdo e outro pop com sangramento no nariz. O placar nada equilibrado foi decidido na 5ª DP (Mem de Sá), no Centro do Rio, onde todos foram acusados de agressão mútua.

Só rindo muito!

sábado, julho 26, 2003

Cometários televisivos

Esta semana asisti pasma, devo confessar, a mais um capítulo da novela que ocupa o atual horário das 18h na Rede Globo. O folhetim, intitulado Agora é que são elas apresentava uma cena em que Miguel Falabela, na pele do Prefeito Juca Tigre, mergulhado em dúvidas em seu gabinete, divaga sobre o futuro político da candidatura de seu filho Vitório Augusto, vivido pelo invejado ex Sr SandyJúnior Paulo Vilhena. A cena em nada dispertaria a atenção, senão pelo texto interpretado por Falabela. Nele haviam citações explícitas, pasmem vcs, de Hamlet. É isso mesmo, eu não estou surtando!!! A novela das 18h colocou no ar trechos da obra de Willian Shakespeare! Tudo bem que foi a parte mais conhecida, aquela do ser ou não ser. Mas ele foi além disso, citou um trecho inteiro fazendo uma cara de drama incrível. Eu juro, fiquei comovida! Principalmente porque Hamlet é um dos meus prediletos, depois de Romeu e Julieta, é claro.
Sobre aquele sentimento

Do passado guarda a lembrança de uma companhia agradável. Muitas coisas que ainda a fazem sorrir. Aqueles foras bobos que escondem uma vontade louca de parecer mais inteligente, mais esperto que o outro, eram quase uma obsessão. Eram duas mentes irrequietas e vivas, querendo simplesmente se fazer notar uma pela outra. Uma competição implícita e saudável, ganhava quem conseguia deixar a mente do outro mais aguçada. Assim passaram por alguns meses, compartilhando algumas noites de amasso na garagem do prédio dela. Entre uma seção de cinema no Art Méier e intermináveis sorvetes no Mc Donald's, a vida seguia seu despreocupado curso.

De tão despreocupada na época, a vida os separou. Sem dramas ou despedidas, se perderam nos dias e anos do calendário. Foram cinco os longos anos. O reencontro, de tão improvável se tornou inusitado. Vê-lo outra vez foi para ela uma boa surpresa, para ele uma espécie de volta ao passado. Muitos foram os caminhos percorridos pelos dois nesses anos de afastamento, já não eram mais os mesmos. Porém, a companhia continuava agradável, o papo fácil, animado e instigante. Arriscaram até alguns daqueles foras bobos de antes, só para distrair. Ainda competiam secretamente pelo título de mais inteligente, mas agora se permitiam trocar elogios e compartilhar conclusões mais profundas sobre este ou aquele assunto. A tal maturidade visitava os dois juntos pela primeira vez. Os tempos de amassos na garagem dela ficaram para trás, agora a garagem, uma outra maior e até com banquinhos para sentar e conversar, servia de palco para as animadas conversas antes dele ir embora.

Tudo parecia mesmo ir bem até que alguém errou um caminho. Difícil precisar onde, quando e porque, mas o erro foi realmente constatado e o rumo da história drasticamente mudado. Agora as lembranças já não a fazem sorrir, um traço de tristeza acinzenta seus olhos sempre que dele lembra. São saudades. Saudades que não podem ser saciadas sem que algo de ruim aconteça. Vive sob uma ameaça invisível, como se a qualquer momento tudo pudesse ruir novamente. O tal "caminho errado" vive a espreita dos dois, tal qual um vilão atrás de uma esquina esperando sua distraída vitima. Do que já foi amizade e virou paixão, hoje tenta apenas ser contato. Um simples saber como vai, por onde anda, como tem passado. Mas o medo de tudo mudar novamente traz a tristeza de não poder ficar por perto.

segunda-feira, julho 14, 2003

Frases de impacto do fim de semana:

"Não se muda uma pessoa, conquistamos-a"
Clayton Barros querendo impressionar

"O estacionamento foi caro, mas o caldinho de mocotó está tuuudo"
Miss Fogo Encantado:-) ao receber sua faixa

"Essa banda tem uma coisa interessante: todos os caras são feios"
Thaty Garcia sem se deixar abalar pela musicalidade da Nação Zumbi

sábado, julho 12, 2003

Sobre a monografia

Ouvir um CD, ver o povo tocando no palco, colocar uma idéia na cabeça, discutir esta idéia com o povo que toca no palco... A primeira vista esta conexão me pareceu extremamente simples, mas olhando bem de perto, de dentro eu diria, não é mesmo.

Para cada impressão minha, existem outras tantas a serem confrontadas. A distância entre ouvir o CD, ver a banda em cena e assimilar seu trabalho no âmbito em que ele deve ser assimilado é incomensurável. São detalhes, nuances e idéias espalhadas por todos os lados. O trabalho do músico nunca é só aquilo, o músico nunca é só aquele.

Ingenuidade pensar que só porque o cara canta forró ou declama poesias cantadas no palco ele é um mero repetidor das suas raízes culturais. Ingenuidade concluir que sua música se restringe a apenas rever antigos conceito, repassar antigas formas e manifestações artísticas. Ingenuidade chamar de folclórico o que na verdade é apenas roots, tão minha quanto dele. Uma mera bagagem sonora passada para frente por ser parte dele mesmo.

Não é uma visão preconceituosa, é apenas a constatação do tamanho do país em que se vive e, especialmente, da diversidade cultural que ele abriga. Passar os últimos 32 anos no sudeste sendo bombardeada por informações globalizadas e pouca influência interna, pouca roots, se expressa assim. Acabamos tratando como ETs quem se propõe a falar de coisas simplesmente BRASILEIRAS.

Já estou revendo meus conceitos.

domingo, julho 06, 2003

Sobre o mesmo

Mesmo sem querer lá estava ela, admirando o rapaz de longe. Olhos compridos pela fresta da porta do quarto. Lá dentro ele se vestia, de costas escolhia a camisa e ela, de longe, contemplava a pequena cena. "Belas costas", pensava mesmo sem querer, já que ainda estava de pé sua promessa secreta de esquecer de vez os meninos, uma vez que estes, há muito, pareciam esquecer se da existência dela. Mas como a atração é algo ainda incontrolável, passou o resto dia a admirar o resto do rapaz. Sorrisos, trejeitos, voz, palavras, gestos, nada mais passava despercebido. Ensaiou algum assunto, era grande a vontade de saber o que mais havia por trás daqueles olhos, "que olhos!". Fitava-o de longe, discreta e insistentemente. De tanto observá-lo notou que algo sempre cruzava seu olhar, era outra. Outra mulher também parecia rendida aos encantos do belo rapaz. Mudou o ponto de observação para os dois e com o passar das horas foi descobrindo que o belo rapaz era como todos os outros, também não a enxergava. Seus belos olhos não encontravam os dela, e, mais uma vez, a outra foi a escolhida. Sentindo-se tola por tentar, mesmo sem querer, mais uma vez, guardou a ponta de arrependimento junto com todas as outras tantas.