sábado, fevereiro 13, 2010

Um novo ângulo para o velho Carnaval

Faz tempo que digo aos quatro ventos que não gosto do Carnaval. Acumulei ao longo dos anos uma boa lista de motivos para abolir do calendário essa tal festa profana. Podia listá-los aqui, mas são tantos que prefiro resumir e citar apenas os mais emblemáticos como, por exemplo, a idéia fixa de que tudo vai acabar na quarta-feira. Essa sensação de fim de mundo que ronda a cidade e toma conta das pessoas é enlouquecedora para mim. Tá legal que a idéia central do carnaval é exatamente essa: quatro dias para ser livre de todas as regras e convenções. Mas sei lá, no final das contas isso é uma utopia insana. Não acho possível viver em comunidade sem ter limites, mesmo que por apenas quatro dias. Beber até cair, agarrar qualquer um que passa, andar pelado por aí, colocar um pênis de borracha no nariz e achar engraçado, fazer xixi nas ruas, ficar espremido no meio de uma multidão com um calor de 50 graus durante horas cantando as mesmas musicas. Na boa, isso não é divertido!

Mas, como absolutamente tudo, tem um outro lado. O samba é de fato um estilo musical memorável. Democrático, informal, contagiante. Não tem como não se emocionar ao ouvir a multidão cantando em coro um samba de Noel ou de Cartola, Chico Buarque, Paulinho da Viola. As baterias das escolas de samba, que são como grandes orquestras onde os surdos tocam dentro da gente, quase no compasso do nosso coração. Dá para perder a pose. O corpo samba mesmo sem saber sambar. A alegria das pessoas nas ruas é tão contagiante que você sorri mesmo sem querer. Os desfiles das escolas de samba que são como grandes óperas a céu aberto. Ver uma história ser contada com musica, pessoas e alegorias em movimento é mágico.
Então foi assim, no meio da repugnância ao clima de fim de mundo, ao calor e as pessoas insanas eu topei trabalhar como repórter de rua nesse carnaval. Constatei o que no fundo eu já sabia: eu sou brasileira e carioca de corpo e alma! Posso não gostar do tumulto, ficar mau humorada com o calor e os bêbados, mas é só o samba esquentar para eu me jogar.

Ficar presa no engarrafamento causado por um carro alegórico dentro do ônibus quando os termômetros marcam 40 graus do lado de fora. Descer no meio da Presidente Vargas e andar debaixo do sol escaldante até encontrar uma estação do Metro aberta. Sair do Metro na Cinelândia depois da passagem do Bola Preta e ter que atravessar aquela multidão suada e alcoolizada pisando de havaianas num chão enlameado de água, cerveja e xixi, perdendo extatos 32 minutos num trajeto que se faz em cinco. Tudo isso para chegar à Lapa, primeiro local de cobertura que já estava lotado duas horas antes do bloco sair. O mau humor já estava atingindo níveis desumanos e nem me permitia sorris para criancinhas fantasiadas de fada! Mas eis que o bloco começa o aquecimento, liga o carro de som e o cantor entoa:

“Agora vou mudar minha conduta, eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta, pra poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa?”

E a multidão responde em coro:

“Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?”

A cara amarrada se desfez, o corpo respondeu arrepiado e os olhos mareados deixavam claro que aquilo ali era mesmo pura magia.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Fechando mais uma tampa

Chegou ao fim mais uma das minhas investidas nessa vida doida. Refletindo sobre o assunto tenho uma boa lista de acertos e outra, obviamente, de erros. Ainda não comparei uma com a outra, mas a tendência imediata é sempre achar que a de erros é maior. Não me sinto claramente vitoriosa, mas consigo ver minhas pequenas conquistas. Se lá, cada dia que passa fica mais fácil aceitar algumas coisas sem contestar muito. Afinal nem sempre é obrigatória a presença de um culpado. Algumas coisas podem sim ter suas próprias motivações sem que isso dependa necessariamente de nós, pessoas envolvidas no processo.

To triste, but I WILL SURVIVE!