sexta-feira, julho 18, 2014

O defeito

E eis que no meio da reunião ele toca a tela do celular e exclama sem ao menos mudar o tom de voz: “É uma mulher incrível, mas falta bom senso”.

Um parêntese se abre e ele discursa sobre ela sem poupar elogios, “gente da melhor qualidade”, resume ao fim da longa lista de qualidades. E sem que nenhuma ruga apareça na testa, ele elege o que parece ser o único defeito: a ausência de bom senso.

Ela é a esposa há mais de 15 anos e todo esse tempo juntos o deixou relaxado e seguro o bastante para não fazer do “defeito” um problema. O incômodo é claro, tanto que o faz interromper uma reunião para comentar, mas não o suficiente para fazê-lo sair do tom ou deixa-lo cego para todas as outras qualidades.

Eu, do alto da minha solteirice crônica, sentada na cadeira ao lado penso comigo: "gente da melhor qualidade".