sábado, julho 26, 2003

Sobre aquele sentimento

Do passado guarda a lembrança de uma companhia agradável. Muitas coisas que ainda a fazem sorrir. Aqueles foras bobos que escondem uma vontade louca de parecer mais inteligente, mais esperto que o outro, eram quase uma obsessão. Eram duas mentes irrequietas e vivas, querendo simplesmente se fazer notar uma pela outra. Uma competição implícita e saudável, ganhava quem conseguia deixar a mente do outro mais aguçada. Assim passaram por alguns meses, compartilhando algumas noites de amasso na garagem do prédio dela. Entre uma seção de cinema no Art Méier e intermináveis sorvetes no Mc Donald's, a vida seguia seu despreocupado curso.

De tão despreocupada na época, a vida os separou. Sem dramas ou despedidas, se perderam nos dias e anos do calendário. Foram cinco os longos anos. O reencontro, de tão improvável se tornou inusitado. Vê-lo outra vez foi para ela uma boa surpresa, para ele uma espécie de volta ao passado. Muitos foram os caminhos percorridos pelos dois nesses anos de afastamento, já não eram mais os mesmos. Porém, a companhia continuava agradável, o papo fácil, animado e instigante. Arriscaram até alguns daqueles foras bobos de antes, só para distrair. Ainda competiam secretamente pelo título de mais inteligente, mas agora se permitiam trocar elogios e compartilhar conclusões mais profundas sobre este ou aquele assunto. A tal maturidade visitava os dois juntos pela primeira vez. Os tempos de amassos na garagem dela ficaram para trás, agora a garagem, uma outra maior e até com banquinhos para sentar e conversar, servia de palco para as animadas conversas antes dele ir embora.

Tudo parecia mesmo ir bem até que alguém errou um caminho. Difícil precisar onde, quando e porque, mas o erro foi realmente constatado e o rumo da história drasticamente mudado. Agora as lembranças já não a fazem sorrir, um traço de tristeza acinzenta seus olhos sempre que dele lembra. São saudades. Saudades que não podem ser saciadas sem que algo de ruim aconteça. Vive sob uma ameaça invisível, como se a qualquer momento tudo pudesse ruir novamente. O tal "caminho errado" vive a espreita dos dois, tal qual um vilão atrás de uma esquina esperando sua distraída vitima. Do que já foi amizade e virou paixão, hoje tenta apenas ser contato. Um simples saber como vai, por onde anda, como tem passado. Mas o medo de tudo mudar novamente traz a tristeza de não poder ficar por perto.

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