segunda-feira, agosto 16, 2004

As voltas da vida, ou às voltas com a vida

Semana passada a fechadura do meu armário quebrou. Quase todos os esqueletos guardados lá resolveram cair pelo chão do meu quarto. Que bagunça! Que sujeira!

Os efeitos colaterais disso não demoraram a aparecer. Na verdade, apareceram antes mesmo deles caírem pelo chão. Como se estivessem prevendo os fatos, já se adiantaram a tal dorzinha de cabeça, as palpitações, a tristeza profunda e toda aquela deprê. O velho bode preto, meu companheiro de muitas rebordosas sentimentais, se materializava outra vez ao me lado. Semaninha de merda!

Eis que numa madrugada dessas a florzinha do ICQ pisca. “Olá”, dizia um de meus esqueletos do fundo do armário. Claro que forçava a porta para quebra a fechadura. Nem liguei. Ficou lá, batendo, batendo... “Ta legal, o que vc quer afinal?”, respondi irritada. E lá foi aquele blá blá blá de sempre. Eu agredindo e ele se ressentindo, que coisa mais chata! Tratei de colocar uma cadeira para segurar a porta do armário e saí.

Mas não teve mesmo jeito. Final da tarde de domingo, eu não escaparia mesmo ilesa a esta semana de merda. O golpe fatal veio via telefone. “Queria muito que você aparecesse”, dizia carinhosamente do outro lado da linha a irmã do outro esqueleto. Bastaram dez minutos de papo para eu perceber que o irmão dela não era propriamente um esqueleto. Está mais para morto-vivo, um zumbi fétido talvez. E foi ele quem quebrou definitivamente a fechadura do armário.

Agora estão todos por aqui, atrapalhando a passagem, me fazendo tropeçar em ossos o tempo todo. Mal consigo dormir...

Moral da história: enterrem seus mortos numa cova bem funda. Armário não é lugar de esqueleto.

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