segunda-feira, outubro 04, 2004

Sobre o medo

Tomada pelo medo ela estava paralisada. Mal conseguia pensar. O coração aflito, respiração ofegante, mãos tensas. Ela gesticula muito, fala apressada quase atropelando as palavras. Por vezes parece que vai cair em prantos, seus olhos mareiam e a voz embarga. Mas logo passa a mão nervosa pelo rosto tentando se recompor. Já nem sabe bem porque tudo mudou.

Respostas são o que mais precisa, mas o medo não a deixa buscá-las. Desde que descobriu que as feridas ainda se encontram abertas vive assim, acuada. No fundo sabe que tudo depende dela e que tanta angustia pode ter um fim rápido. Mas, pela primeira vez, sente medo de ir atrás.

A linha de frente sempre foi seu posto de combate. Qualquer intervenção que se fizesse necessária, era ela a primeira a atirar. Fazia valer o velho mito do corpo frágil cheio de forca. Mas as lutas foram tantas que algo se quebrou. Cansada de ver as feridas em seu corpo frágil, sente vontade de bater em retirada e pedir asilo.

Ao menos um vez, gostaria de ver a batalha de longe. Virar expectadora de sua vida e abrigar-se do conforto da tribuna até que alguém apareça no centro do palco para dizer que tudo foi um erro, que vai cuidar e protegê-la dali em diante.

Nenhum comentário: