domingo, janeiro 29, 2006

Sobre o exílio

Tudo aconteceu rápido. Quando despertou já não estava no mesmo lugar de antes. Estava escuro. Cercada de paredes úmidas e sombrias não conseguia compreender o ocorrido. Ainda trajava as roupas de festa e sua última lembrança era de uma bela comemoração, muitos sorrisos, alegria. Mas, ao despertar acuada em um beco, ouvia apenas ruídos ao longe. Eram pessoas, um vozerio incompreensível. Atordoada, levantou-se e caminhou em direção as estranhas vozes. Deparou-se com rostos estranhos e, tendo sua presença percebia, foi olhada com pesar. Rapidamente compreendeu: fora banida de sua felicidade.

Os dias no exílio são lentos, sempre descoloridos, desprovidos de sensações extremas. Passam pesados como toras de madeira carregadas sobre os ombros. A saudade é a única companheira leal, é ela quem não permite que tudo suma da lembrança. Preserva os cheiros, os gostos, os sentidos. Faz tudo doer, mas ainda assim é bem vinda. Em meio ao vazio dos dias torpes, a dor vira dádiva.

Tempo é de fato um santo remédio. Ele transforma, encaixa, acolhe, compreende. A medida que passa muda as coisas ao seu redor. Mas, para saber de verdade o preço de um exílio, é preciso voltar.

Aos poucos foi dando conta dos tantos anos que passara fora. Ao ver as provas de sua ausência, os momentos mágicos que perdera. Foram muitos os sorrisos, as alegrias, as comemorações. O tempo, cruel e implacável, não parou. Passou rápido permitindo que aquele tanto de vida lhe fosse roubado. Olhando tudo aquilo se sente vazia, traída, lesada. A dor, dádiva de outrora, agora apenas fere.

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