quinta-feira, outubro 20, 2011

Sobre o muro

E tudo fluía como de costume. Desde o primeiro embate, marcado pela afinidade, os dois não se largavam. Um daqueles encontros surpreendentes com ares de comédia romântica. Lugar inusitado, circunstâncias inesperadas e argumentos hilários. E tudo ficou confortável ao primeiro toque.

Conforto era mesmo a palavra chave. Sem se preocupar com o rumo da história eles trilhavam o novo caminho. Encontros furtivos no meio do dia, galerias de arte, caminhadas a beira mar, cafés, banquinhos em vias públicas. Não importava o cenário, o clima era sempre propício a risadas, idéias e novas histórias sobre velhos temas.

O desejo também estava lá em proporções desconcertantes, tanto que fazia rubrar bochechas e arrepiar a pele. E quando finalmente se tornaram um, todo o resto se corroborou: era mesmo um bom encontro!

O brilho nos olhos denunciava e a vontade de estar só crescia. Quando a motivação ficou clara, melhor, foi proferida as primeiras nuvens se pronunciaram. O tempo começou a escassear e o estar já não era mais um verbo tão presente. A história agora tinha uma direção.

Palavras ditas são sempre concretas, tanto que o peso denuncia. Difícil disfarçar, mais ainda carregar. Assim começa a ficar estranho. O concreto vira muro para esconder as reais intenções ou a falta delas. Ela tenta escalar, olhar por cima para ver se tem como pular. Encontra uma pequena brecha por onde pode ver que ele preferiu, simplesmente, encostar e deixar tudo passar.


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