domingo, setembro 19, 2004

Sobre a sedução

Aquele jeito. Parado, ombros arqueados, meio curvado para frente. Uma das mãos no bolso e ele ouvia atentamente a menina à sua frente falar. Um figurino despojado, nada de especial, mas ainda assim ele se faz notar. Quando ela corre os olhos pelo salão quase lotado é nele que pára.

De fato não é um homem bonito. Não é lá muito alto, está um pouco acima do peso, usa o corte de cabelo mais comum do mundo. Em seu rosto não existe nada de exótico ou que faça parte dos padrões vigentes de beleza. Olhos normais, nariz normal e seu sorriso é até meio torto. Seria um cara comum se não lhe despertasse tanto a atenção. Se pôs a observá-lo fixamente por alguns minutos e eis que uma ponta de desejo se apoderou de seu corpo. Ela o reconheceu, já havia tido com o tal em outras épocas, mas o desejo ainda era vivo.

Anos atrás eles dividiam o mesmo ambiente. Encontros diários e conversas informais construíram uma relação formal e amigável. Mas as palavras e pensamentos do rapaz a seduziam dia-a-dia. A cada fato novo apresentado, a cada debate proposto, a cada divagação, mesmo que por pura diversão, ele se fazia mais encantador. Ao final de poucos dias de convivência já eram dele seus desejos mais lascivos. Tanto e de tal forma que nem mesmo os anos afastados, assim como as mudanças físicas inerentes a passagem dos tais, a fizeram esquecer.

Se aproximou e comprovou sua suspeita. Era mesmo ele. Como poderia errar? E ao final da primeira frase do rapaz já estavam lá outra vez todos os pensamentos impuros que costumava ter quando ele se aproximava. Estava mesmo seduzida e não por um corpo, mas por uma mente. Uma sedução imune ao tempo.

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