sábado, janeiro 10, 2004

O hip hop não se manifesta

O primeiro bafafá de 2004 na cidade rolou em torno do evento Hip Hop Manifesta. A primeira vista, um evento de grande porte, dois dias com shows nacionais e internacionais. Coisa que, para alguém como eu, apaixonada por música e admiradora confessa do mundinho confuso do showbis, é no mínimo imperdível.

O fato é que, este evento sofreu inúmeras retaliações, a começar pelo seu provável cast nacional. O que esperar de um evento de hip hop no Brasil? Que ao menos 80% das estrelas nacionais do gênero apareçam por lá e colaborem de alguma forma para seu sucesso, certo? Errado! A tribo hip hop deu as costas para este festival e poucos foram aqueles que ousaram participar. O Hip Hop Manifesta não foi legitimado por aqueles que se intitulam parte integrante do movimento, que está sempre inserido em questões sociais( um mérito e tanto ), as quais são tema constante na obra de todos eles, BBoys, MCs, DJs, Rappers e grafiterios.

O problema, até onde eu posso assimilar, vem da velha luta de classes, com ares de racismo. Brancos bem nascidos e detentores do poder econômico se metem no gueto dos negros desprivilegiados e marginalizados por uma sociedade idiota ( que ainda pensa que ser superior é ter um tom claro na pela e conta bancária privilegiada ). Os brancos são os produtores do festival, que tem muito dinheiro e investiram pesado para organizar o evento e trazer ao país nomes de projeção internacional, colocando o Brasil na rota internacional do gênero musical mais em voga ultimamente. Do outro lado, fazendo a maior cara feia do mundo, o movimento que acabou vendo defeito em tudo que o evento tentou fazer para ser legal para todo mundo.

Quem conhece sabe que hip hop não é apenas um estilo musical, vai muito além disso. É um estilo de vida, um pensamento, um protesto, uma filosofia. Hip hop não é apenas pegar um microfone e sair recitando palavras de protesto contra pobreza, diferenças sociais, violência ou racismo. É uma manifestação cultural rica e abrangente como qualquer outra, e que engloba outras artes como dança, grafitte, poesia e música, é claro.

Para mim, tudo isso é claro. Sou jornalista, estudo, pesquiso, me interesso, escrevo. Amo música, me intero de tudo que tenha a ver com ela. Mas e para o resto? Será que tudo isto está tão claro assim?

Concordo que R$70,00 por um show é muito caro para a realidade brasileira (é caro tb p/ mim que, se não fosse a credencial de imprensa, não entraria lá), concordo que existe um compromisso social do movimento que precisa ser respeitado, concordo que o Snoopy Dogg e o Ja Rulle não são exemplos de conduta a serem seguidos. Mas por outro lado acredito que este festival seria uma excelente oportunidade de mostrar para muita gente o verdadeiro significado do movimento. Se tudo se perdeu pelo caminho e os interesses econômicos superaram os sociais, a idéia precisa prevalecer. Se os astros gringos pregam a violência e outras bobagens em inglês, cantem a paz mais alto que eles e em bom português. Se o hip hop é uma filosofia, vençam pela palavra. Não importa de onde veio ou para onde vai o dinheiro, o bjetivo é divulgar, é se manifestar.

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