sexta-feira, janeiro 23, 2004

Sobre a beira mar - Parte I

Mesmo com o sol do alto verão, o clima permanecia ameno. A brisa do mar acalma os ânimos e deixa aquela moleza no corpo que só entende quem nasce abaixo da linha do Equador. A luz do dia reflete na areia, clareando tudo ao redor, idéias, almas e pensamentos. Tudo parece mais fácil à beira mar.

Buscava alguém com o olhar para saciar sua eterna sede de saber, dúvidas que surgem a cada observação do desconhecido. Porém, sua alma inquieta a fazia buscar o que na verdade mais desejava: um amor. Alguns minutos de procura e ela o viu, sentado à sombra, pacientemente à espera de alguém.

Sem nenhuma cerimônia, quebrou o silêncio se apresentando e travando rapidamente uma conversa. As perguntas são mesmo seu forte e, sem piedade, interrogava-o sobre todas as coisas, sem desistir nem mesmo sob os argumentos do rapaz. "Não sou bom com as palavras", disse ele por trás de um sorriso cativante.

Diante de tanta delicadeza, ela respondeu sem titubear: "Deixa que das palavras cuido eu". Pronto, lá se foi a chance do rapaz de fugir de seu implacável interrogatório. Mas, a esta altura ele parecia gostar da conversa com ares de inquisição. Caminharam, viram coisas juntos, partilharam idéias e alguns olhares.

Dele, ela conseguiu uma bela lembrança minutos antes da pessoa aguardada chegar e todo o assunto ser interrompido. Ele se foi, mas deixou um convite: "Aparece mais tarde". Algumas pendências a levaram a aceitar o furtivo convite. Ao se despedir, um aceno do belo rapaz a fez perceber que algo brilhava em sua mão. Uma aliança, um sinal de união, posta no dedo anular esquerdo, aquele por onde passa a artéria que leva sangue ao coração. Um coração já ocupado.

Mesmo desanimada com tal suspeita, horas depois ela o procurou novamente. E se deparou com o rapaz acompanhado. A mesma aliança iluminava a mão esquerda da moça. A penas uma pergunta de longe e a resposta negativa a fez partir. De longe ela observava a moça e se perguntava: "Onde será que eu estava enquanto eles se casavam? Onde será que eu estava enquanto todos se casavam?".

Mais uma vez aquela velha sensação de ter chegado atrasada à sua própria vida.

Nenhum comentário: