segunda-feira, junho 23, 2003

Sobre o Tempo

Aquela velha sensação de que o mundo pára se ela nada fizer ainda a acompanhava, agora um pouco mais sólida que antes.
Certa vez alguém lhe perguntou: até quando você vai obrigar as pessoas a lhe reservar um espaço na vida delas? Tal questionamento surgira como resultado de um de seus enésimos equívocos. Sempre tentando resolver as coisas, queria a qualquer custo se fazer saber, se fazer pertencer, se fazer entender, se fazer estar. Se alguma coisa estava sem resposta, lá saia a cata de um porque que satisfizesse sua sede, mesmo que este não lhe fosse de bom grado. Mesmo se este dor lhe trouxesse, lá estava, fingindo-se de firme, pronta a ouvir o que quer que fosse. Se declarava preparada para tal sofrimento, justificado com o curto prazo que este teria se todas as esperanças fossem dissipadas com as explicações prematuras, as quais insistia sempre em colher. O tal "dar tempo ao tempo" nunca foi de seu contentamento, preferia "o benefício da dúvida é para os covardes". E assim seguia, fazendo seu mundo girar com seus argumentos, por vezes irrefutáveis, suas idéias, por vezes absurdas, como suas próprias mãos, já um tanto calejadas.
Com o passar dos anos sua força veio a diminuir, seu entusiasmo diante da vida e dos fatos que ela lhe propunha já não eram mais a mola propulsora para todos os seus sonhos mais secretos. Perdera um pouco do brilho. Parou de obrigar as pessoas a lhe reservar um espaço em suas atribuladas vidas, se postou a esperar e não demorou a observar seu mundo gradativamente diminuir a velocidade.
Agora espera que pare, a comprovação total de sua teoria inicial será seu único afago, já que não mais lhe restará espaço na vida de mais ninguém.


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