terça-feira, março 23, 2004

Tecnologia não é tudo mesmo

Em plena era Pro Tools e seus inúmeros plug-ins, fiquei tão feliz em descobrir que ainda existem gênios trabalhando sem precisar deles o tempo todo.

Semana passada almocei com dois deles, Gabriel Pinheiro e Mário Adnet, ambos envolvidos no próximo CD de Michel Legrand, aquele mesmo que ganhou três Oscar e nove Grammy. Michel já é um senhor, rompeu a marca dos 60 anos e enfrenta alguns problemas de saúde. Há cinco anos sem vir ao Brasil, ele deu as caras e ainda resolveu gravar um CD por aqui, perfeito!

O mais interessante foi como isto aconteceu. Apenas três dias de estúdio e o velhinho deixou um material impecável nas mãos de Mário e Gabriel. Tudo assim, com a urgência de quem não tem mais tempo a perder. Michel foi recebendo o repertório e descendo os dedos no autêntico Steinway de cauda inteira, na companhia dos outros músicos, meio zonzos com a rapidez do pianista para rearranjar as obras de Luiz Eça selecionadas por Mário.

Mesmo na moda total reccal e infinity undo a coisa foi feita como nos velhos tempos. Todo mundo no estúdio, um, dois, três e já. Alguém errou o solo? Outra vez... do início. Tudo assim, nesse clima, em menos de 72 horas! Um processo criativo quase mágico, captado também de maneira pura e fiel.

Agora os rapazes estão lá (sim, no ProTools, é claro), editando algumas faixas antigas de Eça também para este álbum. Mas já deram sua contribuição a arte pela arte ajudando a produzir um material como nos velhos tempos, sem se importarem com as ferramentas que estavam mais à mão, mas se empenhando em fazer tudo soar como deve ser: tocado com emoção.

Nenhum comentário: