domingo, fevereiro 29, 2004

Momento apropriação do texto alheio

Li esse texto hj por acaso e não poderia deixá-lo de fora deste blog. Para TODOS os meus amigos e amigas que não compreendem porque eu gosto tanto de São Paulo e, em especial, dos paulistanos, o Marco Antonio Araújo explica em seu texto para a Revista da Folha de São Paulo. Leiam com atenção e não me chamem mais de ridícula quando eu defender ou me apaixonar por um paulistano, ok?

Paulistano tem que ser macho profissional
[por Marco Antonio Araújo]

Ser homem em São Paulo não é para amadores. Tem de ser profissional. E como em qualquer carreira, é preciso talento. Sem vocação, nem megasena resolve. Um homem rico, sem jeito para a coisa, não passa de um pobre coitado. Acaba por gastar seus milhões em viagens de helicóptero para Maresias e boates da Vila Olímpia. Fortuna é apenas sinônimo de sorte. O resto é suor e competência.

Fácil é ser macho nas praias cariocas, na bonança das Minas Gerais, puxando peixeira na caatinga ou abençoado com o mito erótico de um bom baiano. Quero ver é se dar bem num lugar que o país inteiro associa com estresse e malufismo. Em que tudo, trânsito, poluição, derruba o nível de testosterona do mais convicto troglodita. E numa terra em que as mulheres tendem a valorizar mais o forasteiro do que o nativo.

As paulistanas são rigorosas com os da casa e muito hospitaleiras com turistas. Se for estrangeiro, então, é revoltante. Adoram carimbar passaporte. Devem ter suas razões: só usamos bermudas nos fins de semana, ficamos bronzeados apenas em janeiro, trabalhamos feito mulas o ano inteiro e temos bons times de futebol. O charme que nos resta é sermos práticos e intelectuais, se é que isso é charmoso. Se não nos esforçamos, só servimos para tempos de estio e casamento.

Tudo conspira contra a masculinidade na cidade da Parada Gay e da Erika Palomino. Para ser um homem bem amado, bom amante, é preciso convicção e constante processo de reciclagem. Tem de abrir a porta do carro para as moças sem parecer um babaca, saber ler carta de vinhos mesmo sem dinheiro para comprá-los, conhecer os filmes do Eric Rohmer apesar de detestá-lo, estar empregado como se isso fosse possível, gostar de mulher e, por fim, fazer de conta que tô nem aí, tô nem aí.

Esse discurso pode soar superficial. Aceito ponderações e críticas menos de pessoas solteiras que se dizem felizes, pois são todas mentirosas. Já vivi o suficiente para saber que homens precisam de mulheres, e mulheres, de homens. Ainda mais morando em São Paulo, onde é difícil encontrar alguém para dividir o aluguel, que anda pela hora da morte. Com marmanjo é que não dá para morar junto. Amigos, amigos; negócios à parte. Tem de ser profissional.

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