sábado, fevereiro 07, 2004

Sobre Salvador

Era sua primeira vez naquela cidade. A excitação natural pelo momento se misturava à ansiedade descobrir o novo lugar. Já na saída do aeroporto, seus olhos curiosos buscavam os detalhes. Bambus na beira da estrada quase fechavam o caminho ao mesmo tempo em que puxavam velhas lembranças, despertando semelhanças com locais já conhecidos iniciando seu velho jogo de memória. Um jogo que sempre fazia, uma maneira divertida de se deixar à vontade em qualquer lugar, mesmo os nunca vistos.

Os dias se seguiram recheados de agitação. Aquela solidão positiva num quarto de hotel e nas rápidas caminhadas pelas ruas. Refeições solitárias e dias agitados repletos de novidades e pessoas diferentes. Tudo caminhava do jeito que mais gostava, totalmente fora da monotonia. Seu espírito estava livre.

No meio de toda correria, um olhar a segura. O rapaz a fitava com tamanha precisão que não passou despercebido. Comovida com tal atitude, um tanto rara em sua vida apressada, correspondeu, como de costume, esperançosa. Aquela mesmo esperança tola que insiste em ludibriá-la, deixando tudo mais bonito ao seu redor. Sorrisos trocados, palavras descompromissadas e pronto, lá estava ela dedicando sua preciosa atenção aos passos do rapaz.

Um pouco mais de conversa e as afinidades surgem. Mais uma dose de palavras e lá estão as divertidas divergências. Os dois se põem a rir, divertem-se juntos. E mais olhares trocados fazem surgir uma ponta de desejo. Ele aproveita qualquer oportunidade para cruzar seu olhar com o dela ou tocá-la acidentalmente. Numa dessas oportunidades, ousa acariciá-la delicada e discretamente. Carinhos no pescoço, quem pode recusar? Ela fica imóvel, desligada do mundo, apenas sentindo o momento.

A evolução natural, no meio de uma brincadeira e várias risadas, surge o beijo, algo já esperado ansiosamente por ela. Os efeitos são automáticos. De olhos fechados ela pensava: "Não pare, por favor". E o momento fulgás ganha ares de eternidade.


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